8 de julho de 2009

Diferenças ideológicas: O que se devia falar…

A crise, já se sabe, tem servido para muita coisa. Serviu, entre outras, para disseminar no léxico português uma palavra nova: neoliberalismo. Poucos saberão ao certo o que significa – para os que se dizem liberais, pouco mais que uma diabolização abusiva daquilo em que acreditam; para os outros, que a usam quase em exclusivo e em forte abundância, como forma de ofender, apontar o dedo acusador, na hora de encontrar culpados para todos os males do mundo.

De repente, uma certa arrogância moral e uma superioridade intelectual levantaram-se pondo em causa o liberalismo (coloquem-lhe o prefixo se quiserem, mas o nome é este). Mais do que isso, as ideias liberais têm vindo a ser ridicularizadas com recurso à crítica fácil e desinformada, através da montagem de mitos e do uso de preconceitos. Neste post (cuja leitura recomendo antes da leitura completa deste meu post), o Cláudio Carvalho, que muito prezo, usa e abusa de tudo isto, confundindo conceitos, ideias e definições. Chega até a confundir PSD com liberalismo. Com todo o respeito, meu caro, permite-me reescrever o post.

Para os liberais, a liberdade, desde que não prejudicial à liberdade de outrém, é a base de uma sociedade moralmente desenvolvida, a base de uma sociedade de valores. Para o PS do Cláudio Carvalho, a quantidade de sal no pão deve ter em conta os princípios higiénicos e de saúde em termos alimentares que eles (ou alguém) acharam correctos. O problema do Cláudio Carvalho é, sem dúvida, assumir que é moralmente superior e que a verdade dele é a verdade universal. Só assim se compreende as afirmações do mesmo, relativamente ao liberalismo – ou como insistem em dizer, ele incluído, o neoliberalismo.

Relativamente ao espectro económico, não haja dúvidas. Não há partido que represente fielmente os liberais portugueses, que olham a componente social, que a economia deve ou devia ter em conta, de forma diferente de um socialista (como é óbvio). O PSD e o PS são dois partidos social-democratas, um mais à esquerda do que o outro. Fale-se a verdade, para os liberais, a educação, a saúde e até a segurança não são um negócio – podem, isso sim, ser geridos de maneira diferente. Do ponto de vista social-democrata, laranja ou rosa, educação, saúde e segurança são “serviços” universais pagos por todos os portugueses, porque contrariamente aos liberais, acreditam que não há portugueses com necessidades diferentes – são todos iguais, ainda que artificialmente.

2 comentários:

TMR disse...

Na verdade, Tiago, penso até que todos os partidos do «arco governativo» são demasiado parecidos nesse aspecto. O PS nitidamente social democrata. O PSD e oscilar entre o social democrata e o democrata-cristão. O CDS tipicamente democrata-cristão.

Não existe um único partido liberal, com tudo o que isso implica, em Portugal. Desde as questões de direitos civis - casamento gay, por exemplo - a liberdade económica. Os portugueses nunca tiveram quem lhes apresentasse este tipo de ideias...

DL disse...

Completamente de acordo. Alias, é preciso muita lata para culpar o liberalismo pela crise. Se há coisa que não existe em Portugal é espírito liberal, e liberalismo muito menos.
Quem faz isso, tem esperança que uma mentira repetida muitas vezes, passe a ser uma verdade.
Se há responsável pela nossa situação, é o espírito socialista de não iniciativa instalado. Infelizmente, demagogos como Sócrates e Louçã, têm sabido tirar partido disso, com as celebres tiradas de tudo a todos.

Abraço